Quem não mobiliza, some. Por Lucas Almeida

Lucas Almeida escreve artigo sobre o abismo entre estar visível e estar presente na política digital. No texto, ele desmonta a ilusão de que marcar presença nas redes sociais, especialmente no Instagram, é suficiente para gerar conexão com o eleitor.

Com uma análise sobre o crescimento do WhatsApp como ferramenta estratégica, Lucas mostra como a verdadeira influência política se constrói longe dos holofotes. Foto: Arquivo Pessoal

Entre a visibilidade e a presença, existe um abismo político. O crescimento das campanhas digitais nas redes sociais, especialmente a partir de 2018, consolidou a ideia de que todo político precisa estar nas plataformas. No entanto, estar presente no Instagram não significa estar presente na vida do eleitor. E, em um cenário de saturação de informações, impulsionamentos cada vez mais caros e desconfiança generalizada na classe política, quem não constrói conexão real corre o risco de desaparecer.

O uso de aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, segue em alta. Em 2019, uma pesquisa da Câmara e do Senado apontou que 79% dos entrevistados recebiam notícias exclusivamente pela plataforma. Em 2024, a Opinion Box mostrou que nove em cada dez pessoas abrem o app diariamente. Inicialmente visto como um canal informal, o WhatsApp se consolidou como espaço central de circulação de notícias, articulação de militância e campanhas negativas. Mas, ao contrário das redes abertas, ele não exige “aparição constante”, e sim planejamento, regularidade e autenticidade.

A diferença é que, nesses ambientes, a comunicação não gira em torno da figura pública o tempo inteiro. Funciona melhor quando o político atua como mediador, não como protagonista. É mais sobre mostrar para onde vão as melancias e menos sobre colocá-las sobre a cabeça. E é importante dizer: isso não significa se ofuscar, mas saber ocupar novos espaços com propósitos distintos.

Enquanto o Instagram demanda uma presença diária quase simbólica, o WhatsApp exige atuação tática. E o principal: permite que o político distribua informações sem precisar ser, sempre, o centro das atenções.

Na prática, isso se traduz em uma mudança de postura. Em vez do clássico “eu fiz isso”, a comunicação mais eficaz nesses grupos se baseia em “vocês viram isso?”. Essa simples inversão aproxima o político da rotina informativa das pessoas, demonstra atenção ao contexto e permite que ele se posicione com mais propriedade e menos oportunismo. Quem acompanha o debate diariamente pode intervir com autoridade quando o assunto ganha tração.

Mais do que isso: o WhatsApp funciona como radar e preparação. É onde o político constrói repertório e economiza capital político ao evitar pautas fora de contexto. Com grupos segmentados por temas específicos, é possível manter múltiplas frentes ativas e nutridas de vínculo.

Essa organização permite tratar agendas distintas de forma personalizada e relevante. Ao estruturar grupos regionais ou temáticos, amplia-se a densidade de atuação sem comprometer a coerência de imagem. A rede social deixa de ser o único palco e passa a ser uma vitrine seletiva. Torna-se possível ter menos postagens com mais impacto, desde que haja foco, timing e direção.

É essa combinação de canais que começa a se consolidar como diferencial real. Políticos com presença sólida em grupos organizados ativam suas bases com agilidade, medem retornos concretos e constroem vínculos duradouros. Já aqueles que concentram esforços apenas no feed público, ainda que com constância e estética, disputam atenção no feirão generalizado das redes sociais.

Como mostra Marcello Natale, no artigo “Política, contexto e urgência: o que (realmente) move o Instagram dos deputados federais brasileiros”, publicado aqui no Upiara.net, os 35 parlamentares com maior engajamento concentraram mais de 60% de todas as interações ao longo de um ano. O dado revela que “relevância, em tempos de conflito e hiperexposição, está cada vez mais ligada à capacidade de se posicionar no momento certo, com a voz certa, sobre o tema certo.”

Portanto, a mobilização eficaz não é espontânea, ainda que precise ser verdadeira. Ela exige método e continuidade. Exige que o WhatsApp deixe de ser visto como mural de avisos e passe a ser tratado como ferramenta de mobilização e inteligência — capaz de escutar, testar e calibrar o discurso.

Afinal, a política que se constrói nos intervalos das urnas é que define quem sobreviveu para disputar o calendário eleitoral. Porque influência não nasce da vitrine na barraca da feira, nasce do vínculo com a clientela. E esse tipo de vínculo, não se improvisa.


Lucas Almeida é estrategista político e especialista em mobilização digital, sócio da Dual Consultoria Política.

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