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Os setores bancário e financeiro argentinos estão passando por uma transformação. Por um lado, as fintechs ganham espaço com serviços e produtos criados para setores historicamente negligenciados pelas empresas tradicionais. Por outro lado, os bancos com mais experiência atualizam suas operações e aprimoram suas tecnologias para não perder terreno e adquirem concorrentes para ganhar mercado.
Nesse contexto, algumas empresas da região veem oportunidades de expansão e crescimento na Argentina. O exemplo mais recente é o Inter, o maior banco digital do Brasil, com 36 milhões de usuários atuais e projeção de chegar a 70 milhões nos próximos anos. De propriedade da família Menín, uma das mais ricas do país, sua chegada à Argentina marca o início de um processo de expansão que busca aproveitar a infraestrutura já desenvolvida em toda a região.
“As operações do Inter começaram em 2015. Era um banco chamado Intermedium, de propriedade da família Menin, de Belo Horizonte, e que oferecia crédito imobiliário e serviços similares. Com a agenda de inclusão financeira do Banco Central do Brasil, diversas medidas foram lançadas para o setor, e uma delas foi o onboarding digital”, diz Santiago Stel, vice-presidente sênior do Inter. “O primeiro banco a oferecer uma conta digital gratuita foi o Inter, e fez tanto sucesso que continuou com cartões de débito e, depois, com cartões de crédito”, afirma Stel.
Ao longo dos anos, o Inter ganhou participação de mercado no Brasil e expandiu seus serviços para se tornar um superaplicativo, com ofertas de serviços financeiros que incluem e-commerce, viagens, seguros e investimentos, entre outros setores. “A ideia é que um usuário possa realizar todas as suas transações na mesma plataforma, de forma abrangente e digital. Dos nossos 36 milhões de usuários, 20 milhões realizam transações a cada trimestre”, diz Stel, demonstrando a penetração do banco, listado na Nasdaq desde 2022.
Ele falou com a Forbes da Argentina:
Qual é o produto ou serviço mais forte da Inter?
Eu diria que a conta geral. Os brasileiros não podem ter conta em dólar, então precisam acessar esses produtos no exterior. Fizemos acordos com bancos nos Estados Unidos que fornecem o serviço de banco depositário, e somos a cara do usuário. Assim, oferecemos aos nossos clientes no Brasil o serviço de manter uma conta em dólar nos Estados Unidos para enviar dinheiro e fazer investimentos. Quatro milhões de clientes já a possuem e a utilizam para diversos fins. Algumas pessoas querem um cartão de plástico para pagar por coisas quando viajam, outras o usam para comprar ações e outras o usam para enviar economias para familiares, ou vice-versa, pois também oferecemos serviços de remessa.
É esse o produto que será oferecido na Argentina?
Exato. Na Argentina oferecemos uma conta global. Como temos toda a nossa estrutura nos Estados Unidos, buscamos oferecer esse produto aos argentinos. Tanto para comprar ações, títulos e outros investimentos, quanto para receber pagamentos no caso de freelancers ou pessoas que alugam apartamentos no local. Tudo da maneira mais simples possível. A ideia é replicar o que foi feito no Brasil.
E o resto dos produtos?
Vamos começar com a parte do investimento. Mais produtos seguirão, porque as ambições são amplas e é provável que sigam o mesmo caminho. Mas o produto inicial tem a ver com a conta de investimento.
As oportunidades do Inter na Argentina
Vários relatórios indicam que o setor bancário da Argentina está vivenciando um aumento nos serviços bancários digitais, à medida que mais consumidores adotam plataformas bancárias on-line e móveis. De acordo com a consultoria de mercado internacional Statista, a receita líquida de juros no mercado bancário da Argentina deve atingir US$ 65,44 bilhões até 2025, e o Inter está confiante de que pode competir por uma fatia dessa receita.
“A maior parte do investimento do banco tinha como objetivo alavancar recursos em outros países. No México, há um uso dinâmico de dinheiro em espécie e operadores de remessas muito ativos, então não víamos uma vantagem competitiva para nós nesse segmento. Por outro lado, a Argentina é um mercado altamente dolarizado, com ciclos voláteis que geram necessidades. Além disso, a poupança é muito mais diversificada em comparação com os países da região, e há um segmento da população que tende a viajar regularmente. Então, vimos a possibilidade de oferecer nossos produtos para fornecer soluções a esses setores que, até então, não eram atendidos por outros concorrentes”, diz Stel.
A Argentina tem muita concorrência em fintechs e criptomoedas. Qual o diferencial do Inter?
Nossa proposta é diferente. Somos um banco regulamentado, listado no exterior e altamente identificável e transparente. Aqueles que abrem uma conta na Inter podem então investir nos Estados Unidos com uma corretora totalmente regulamentada. Não poderia ser mais puramente bancário, então está do outro lado da tabela de criptomoedas, que tem taxas menos claras e mais volatilidade dos ativos subjacentes. No nosso caso, tudo é dinheiro FIAT, não criptomoedas. Não é que não gostemos, mas queremos fazer isso pelos canais mais tradicionais.
Que outros recursos podem ser atraentes para os usuários?
Não cobramos comissões e usamos a taxa de câmbio de atacado. Somos a empresa com o segundo maior market share em número de transações em todo o Brasil. Na Argentina, é mais complicado devido à quantidade de dólares disponíveis, mas o objetivo é oferecer uma taxa de câmbio competitiva. Por fim, não há requisitos mínimos para operar no Inter porque a ideia é democratizar o acesso para todos os segmentos da população, o que é a essência da fundação do Inter no Brasil. O custo de atendimento precisa ser muito eficiente para ser lucrativo em segmentos mais baixos, e é aí que o Inter se destaca. Porque o custo unitário é muito baixo, dois dólares por mês por cliente no Brasil.
Que segmentos da população vocês buscam atender?
Existem vários grupos de clientes que estudamos. De um lado, os freelancers, dos quais estimamos que existam cerca de 4,5 milhões de argentinos que têm algum tipo de atividade vinculada ao exterior. Depois, as pessoas que viajam, o que depende da taxa de câmbio. Viajar é sempre muito caro, mas desde que o peso está mais valorizado, há mais argentinos nos Estados Unidos. E o terceiro grupo é o dos poupadores, um grupo muito interessante. Cada segmento tem um perfil de produto diferente.
Quais são suas expectativas e análises sobre o novo contexto econômico que Milei estabeleceu?
Há muito entusiasmo sobre os acontecimentos atuais na Argentina. Do ponto de vista tecnológico, o país é um líder regional. Quando me apresento como argentino aos investidores, eles costumavam me perguntar sobre Messi, e agora me perguntam sobre Milei. Ele é uma figura que desperta muito interesse e vontade de que a Argentina tenha um bom desempenho. Como uma empresa líder no Brasil, com a Argentina como um dos nossos principais parceiros e um forte intercâmbio turístico mútuo, vemos muita sinergia e integração, e poder conectar a empresa com a Argentina é incrivelmente interessante.
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