A política servida com torta capixaba

No feriado, enquanto muitos aproveitavam o feriado prolongado para relaxar, o governador do Espírito Santo postava no Instagram. Um vídeo simples, uma receita tradicional, uma boa câmera e o carisma de quem sabe a hora certa de aparecer. Resultado? Centenas de comentários — e uma lição sobre como se faz comunicação política nos dias de hoje.

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A postagem da torta capixaba foi mais que um post. Foi uma carta de amor ao Espírito Santo, disfarçada de gastronomia. O engajamento foi imediato e intenso: emojis, elogios, receitas anotadas, memes, convites para a Ana Maria Braga. Gente pedindo para o governador lançar livro de receitas, outros dizendo que “torta é capixaba, o resto é peixada”. Emoção e identidade, servidas no feed.

Não se tratava só de comida. A audiência viu ali um símbolo. O governador não falava sobre obra, decreto ou evento institucional. Falava de pertencimento. De um Espírito Santo que se vê pouco nos grandes holofotes, mas que pulsa forte em cada panela de barro, em cada emoji de coração, em cada “nosso governador” escrito nos comentários. E isso é potente.

Quantitativamente, os números impressionam. Comentários com dezenas, alguns com centenas de curtidas — mais que muitos posts inteiros de perfis políticos Brasil afora. O volume se concentrou nas primeiras horas após a publicação, mostrando que o timing foi bem pensado. Sábado e domingo pela manhã são os novos horários nobres de quem quer capturar atenção de verdade.

Mas é no tom dos comentários que mora o ouro. O público não apenas interage — ele acolhe. Se reconhece. A comunicação que ali se desenrola é menos sobre o homem público e mais sobre a cultura pública. O governador vira símbolo porque se permite ser gente. E isso, hoje, é raro o suficiente para gerar comoção.

Não houve polarização. Não houve reclamações. Não houve pauta sensível. Só torta. Mas, entre uma colher de azeite e outra, estava ali um recado: política também se faz com afeto. E quando bem temperada, ela alimenta mais do que só a vaidade de quem posta. Alimenta uma comunidade inteira de gente que quer se ver, se ouvir e se sentir parte.

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